Você dança na vida, mas não há melodia a ser acompanhada. Você chora nos cantos, mas não há lugar para que essas lágrimas caiam. Você pisa em cacos de vidros nas pontas dos pés, e acha que por isso é bailarina. Você sabe que é tudo verdade, e é aí que você se engana.Você tem medo de ser mal interpretada, mas sabe que se alguém lhe interpretasse corretamente, de nada adiantaria.
Você nasce e se desfaz.
Você urra e acaricia a alma solenemente
Você cria e não se lembra
Você espalha e tropeça no próprio lixo
Você é igual a mim, criança. E o que resta a nós, que somos imperfeitos? Eu lhe digo, minha cara. O que nos resta é dar uma piscadela para o espelho, esperar que ele entenda a nossa trama e, enfim, apertarmos as mãos dos nossos companheiros de farsa expostos na camada de vidro que recobre a película prateada dos nossos palcos. Às favas quem me diz que são reflexos esses palhaços que sapateiam sempre que viramos as costas! Prossigamos sem imitações, sem rastros, sem identidade a ser revelada. Com o coração na mão e a antiética nos dedos, refaçamos nossas estruturas jamais finalizadas.
E que rufem os tambores. De novo.

Neemias Melo
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